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A abordagem policial e a juventude negra: um retrato do racismo estrutural no Brasil

A forma como a polícia aborda jovens negros nas ruas é um retrato fiel do racismo estrutural que atravessa o Brasil. Pesquisas recentes apontam que a cor da pele continua sendo um fator determinante para definir quem será revistado, seguido, questionado e até considerado uma ameaça .Eu, como jovem negro morador de um grande centro urbano, sinto isso de perto.

Assim como muitos outros que conheço, aprendi cedo a moderar o passo, a estar “bem vestido”, a adotar uma postura que transpareça algum propósito quando estou na rua.

É quase como se tivéssemos de nos justificar constantemente para existir no espaço público. Ao mesmo tempo, observo que pessoas brancas podem circular de chinelo, bermuda e boné sem que isso desperte suspeitas ou olhares atravessados.

Essa diferença não é coincidência: é fruto de uma sociedade que ainda associa a juventude negra à criminalidade. Especialistas em segurança pública reforçam que essa prática não apenas fere a dignidade humana, mas perpetua estereótipos de marginalização. Os dados confirmam essa realidade: em 2023, segundo levantamento da Agência Brasil, o país registrou 6.393 mortes por intervenção policial. Destas, 82,7% eram pessoas negras o que significa que a população negra tem risco de letalidade 3,8 vezes maior do que a população branca. Em resumo, a violência policial no Brasil tem cor.

Esse cenário não se restringe às metrópoles; ele se repete em cidades médias e pequenas, demonstrando que a prática é sistêmica. O resultado é um ciclo: a juventude negra é constantemente colocada sob suspeita, e isso legitima a violência policial como se fosse uma resposta “natural” ao crime. Mas existem caminhos possíveis para enfrentar esse problema.

Políticas públicas que priorizem o treinamento inteligente das forças de segurança, a valorização salarial dos policiais e o investimento em tecnologia podem contribuir para reduzir a letalidade e qualificar a atuação policial. Mais do que isso, é necessário incorporar noções de direitos humanos, igualdade racial e inteligência comunitária nas formações deslocando a lógica de combate para uma lógica de proteção. A violência policial no Brasil não pode ser analisada sem o recorte racial.

Se a juventude negra é alvo preferencial da suspeição e da morte, não se trata de casos isolados, mas de um sistema que escolhe quem deve viver e quem pode morrer. Esse é o retrato mais duro do racismo estrutural em nosso país e é preciso encará-lo de frente.

As abordgens policiais no Brasil segue atingindo de forma desproporcional jovens negros e moradores de favelas. Alguns dos casos mais recentes e revelam não apenas a brutalidade das operações, mas também a permanência de um padrão estrutural de exclusão e impunidade. A Chacina de Costa Barros (2015), no Rio de Janeiro, é um exemplo desse panorama.

Cinco jovens, entre 16 e 25 anos, foram mortos com 111 tiros disparados por policiais enquanto comemoravam o primeiro salário. O episódio revelou a desumanização com que corpos negros são tratados e gerou forte comoção nacional, mas não resultou em mudanças efetivas na política de segurança. Já em 2019, duas tragédias expuseram a seletividade da violência. No Massacre de Paraisópolis, nove jovens morreram durante um baile funk em São Paulo, após uma ação policial que gerou tumulto e sufocamento.

Laudos posteriores apontaram asfixia e trauma, contrariando a versão oficial de “pisoteamento”. No mesmo ano, a menina Ágatha Vitória Sales Félix, de apenas 8 anos, foi morta por um disparo da polícia no Complexo do Alemão, no Rio, quando voltava para casa com a mãe.

O caso mobilizou o país por expor a vulnerabilidade extrema de crianças em territórios de conflito. Por fim, a Chacina do Jacarezinho (2021) tornou-se a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, com 29 mortos. Denunciada por entidades nacionais e internacionais de direitos humanos, a ação foi apontada como massacre e levantou questionamentos sobre execuções e abusos policiais.
Em resumo, não existem casos isolados.

O problema é sistemico e deve ser combatido estruturalmente com politicas públicas para garantir a proteção de 56% do povo brasileiro. Conscientização da população, educação de qualidade á população negra e periférica e participação ativa no combate ao racismo no Brasil.

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